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Saúde do Ceará recepciona primeiros indígenas que atuarão na pasta; projeto Farmácias Vivas no SUS articula saber científico e ancestralidade

Os selecionados foram recepcionados com palavras de boas-vindas. Imagem: Ascom Sesa

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) realizou, nesta segunda-feira (25), a cerimônia de recepção dos novos Agentes Indígenas de Cultivo (AIC), bolsistas que atuarão no projeto “Interculturalidade e Farmácias Vivas no SUS Ceará”. Foram selecionados oito agentes de quatro territórios e cinco etnias de povos indígenas do estado que irão colocar em prática a implantação do projeto que inclui cultivo, coleta, processamento e armazenamento de plantas medicinais nas comunidades.

Essa é a primeira vez que a Sesa conta com uma equipe indígena. A cerimônia teve início com palavras de boas-vindas e canto do tradicional Toré, ritual sagrado e manifestação cultural de diversas etnias indígenas do Nordeste brasileiro.

A secretária-executiva da Atenção Primária e Políticas de Saúde da Sesa, Vaudelice Mota, destaca a importância da troca de conhecimentos para a saúde pública do Ceará. “É o momento em que a gente está articulando vários saberes: o saber científico e o saber cultural da ancestralidade da população indígena que trabalha junto à natureza. É uma recuperação de uma articulação e a busca de uma interlocução importante nesses dias de necessidades de mudanças climáticas e repensar como o homem está cuidando da natureza”, afirma a secretária.

De acordo com a coordenadora de Políticas de Assistência Farmacêutica e Tecnologias em Saúde (Copaf) da Sesa, Fernanda Cabral, “a aprovação dos bolsistas nos editais públicos da Sesa configura a continuidade da trajetória cearense envolvendo as plantas medicinais, a Farmácia Viva e a fitoterapia”.

Ela afirma, ainda, que a intenção é sensibilizar diversos setores da sociedade “para que o projeto se configure enquanto estratégia da retomada do cuidado fitoterápico no estado. “Ele vai contribuir para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde Cearense pelas vias da mãe natureza, da ancestralidade dos povos indígenas e da ciência”.

Isabel é uma das selecionadas mais jovens para o projeto. Imagem: Ascom Sesa

Isabel Morais, de 18 anos, pertence à etnia Tapeba e foi uma das pessoas selecionadas para o projeto. Ela está fazendo curso de graduação em Farmácia e atua no movimento de juventude dentro da sua comunidade. “Eu, como jovem do movimento, acho de uma grande importância ter esse tipo de projeto para a gente trabalhar com plantas medicinais, para estar ativa dentro do movimento e dentro dos projetos que são realizados na comunidade”, afirma a jovem.

Os selecionados são de idades variadas e com conhecimentos distintos. Lucilene de Oliveira, aos 41 anos, também foi selecionada para o projeto. Ela integra um grupo de mulheres da etnia Tapeba que já trabalha com plantas medicinais e até já escreveu, junto a essas mulheres, um livro, compartilhando os saberes de seu povo. Ela diz que está feliz com a seleção e que pretende passar seus conhecimentos para as próximas gerações.

“Acho importantíssimo eu passar esse conhecimento para quem quer aprender porque eu estou agora aqui, mas, se amanhã eu não amanhecer, o conhecimento morre comigo. Então o quanto eu puder expandir o conhecimento para aqueles jovens aprenderem, eu estarei disponível”, diz Lucilene.

Alguns exemplos de produtos feitos a partir de plantas medicinais: sabonete de aroeira, escalda-pés com ervas e chá de eucalipto. Imagem: Ascom Sesa

O projeto tem o objetivo de promover a continuidade do acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, incorporando a ancestralidade, a territorialidade e os conhecimentos originários indígenas.

Os bolsistas atuarão nas Coordenadorias da Rede Sesa: de Políticas de Assistência Farmacêutica e Tecnologias em Saúde (Copaf); de Atenção Primária à Saúde (Coaps); e de Políticas de Saúde Mental (Copom).

A iniciativa é resultado de uma parceria da Sesa e das secretarias dos Povos Indígenas (Sepince), de Desenvolvimento Agrário (SDA) do Ceará; do Conselho Estadual de Saúde (Cesau-CE); do Distrito Sanitário Indígena do Ceará (Dsei/CE); da Universidade Federal do Ceará (UFC); e de outras entidades ligadas ao movimento indígena.

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