No último dia 6 de fevereiro de 2025, um grupo de mulheres artesãs da aldeia urbana Marçal de Souza, em Campo Grande (MS), deu um passo histórico com a assinatura de um convênio com o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS). O acordo marca o início da estruturação do Instituto Cacique Enir Terena, uma instituição indígena inédita no Brasil, idealizada em homenagem à Enir Terena, a primeira cacique mulher do país, falecida em 2016.
O projeto nasceu da vitória no Edital Nacional conjunto do Ministério dos Povos Indígenas e do Ministério da Mulher, no final de 2024. O grupo de artesãs foi uma das 123 propostas selecionadas, recebendo um prêmio de R$ 100 mil para criar a instituição e proteger uma marca coletiva de artesanato terena exclusivo.
Convênio e ações previstas – O convênio entre o grupo de artesãs e o IFMS prevê uma série de atividades ao longo dos próximos dois anos, incluindo:
- Apoio técnico na participação em novos editais técnicos e culturais.
- Realização de pesquisas científicas sobre a população indígena de Campo Grande.
- Palestras e atividades conjuntas entre a comunidade indígena, professores e alunos do IFMS.
- Consultoria permanente na gestão do Instituto e na proteção da produção cultural indígena.
- Inclusão da difusão da cultura indígena na grade curricular do IFMS.
Emoção e celebração na comunidade – Durante a cerimônia de assinatura, Maria Auxiliadora Bezerra, filha de Enir Terena e liderança do grupo de artesãs, emocionou-se ao relatar o significado do momento: “Essa conquista representa muito para nós, uma comunidade acostumada a encontrar portas fechadas. Agora, teremos acesso à educação, capacitação e gestão de alto nível”, afirmou Maria.
A reitora do IFMS, Elaine Cassiano, reforçou o compromisso da instituição com o apoio às comunidades indígenas, destacando que o IFMS foi escolhido pelo Ministério dos Povos Indígenas para participar do Programa Teko Porã: Fortalecimento do Bem Viver do Povo Guarani Kaiowá.
O programa busca implementar ações de fortalecimento territorial, cultural, social e econômico nas comunidades indígenas do sul do estado.
Resultados esperados – O convênio visa proporcionar autossustentabilidade social, ambiental e econômica à comunidade indígena de Campo Grande, gerando renda, preservando a cultura terena e promovendo a criação de instituições próprias de apoio e gestão.
“Esse projeto trará o fortalecimento da comunidade, com impactos duradouros na preservação da cultura indígena e na construção de uma autonomia real”, afirmou a professora Clarissa Gomes Pinheiro de Sá, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI-CG).
Parceria técnica e acadêmica – O desenvolvimento do projeto conta com a colaboração de diversas lideranças acadêmicas e técnicas, entre elas:
- Clarissa Gomes Pinheiro de Sá (NEABI-CG)
- Germano Coelho Ramos Rocha da Silva (Mestrado PROFNIT)
- Prof. Dr. Márcio Teixeira Oliveira (coordenador)
- Prof. Dr. Guilherme Botega Torsoni (orientador)
O grupo também contará com apoio técnico na elaboração de novos projetos voltados à geração de renda, valorização do artesanato local e promoção de iniciativas culturais integradas com o IFMS.
Homenagem a Enir Terena – O Instituto Cacique Enir Terena presta homenagem à Enir Terena, uma figura marcante na defesa dos direitos dos povos indígenas. Ela foi a primeira mulher cacique do Brasil e tornou-se símbolo da resistência e luta pelos direitos culturais e territoriais dos povos originários.
O nome do instituto carrega o legado de uma liderança que deixou uma marca indelével na história indígena do Brasil e inspira novas gerações a continuar lutando por autonomia e valorização cultural.