Para debater os mais diversos tipos de violência contra as mulheres Guarani Kaiowá, uma equipe do Ministério das Mulheres está em Mato Grosso do Sul para reuniões com indígenas de Amambai, Dourados e Campo Grande. A ação está sendo liderada pela coordenadora Pagu Rodrigues, coordenadora de prevenção à violência contra as mulheres da pasta nacional.
De acordo com a Jaque Aranduhá Kaiowá, que faz parte da Kuñangue Aty Guasu, a Grande Assembleia Das Mulheres Kaiowá e Guarani, informou que as visitas foram solicitadas para a ministra Cida Gonçalves, titular da pasta das Mulheres, durante o Acampamento Terra Vermelha, que aconteceu em abril deste ano, em Brasília (DF).
Ao Correio do Estado, Aranduhá explicou que a primeira cidade visitada pela equipe foi Amambai, onde as mulheres de aldeias e retomadas participaram do processo de escuta, quando puderam falar sobre suas reivindicações e dúvidas a respeito da segurança das mulheres indígenas. A região passa por diversos conflitos de terras onde a etnia luta para retomar os territórios ancestrais.
A equipe também passará por Dourados, onde se reúnem no Ministério Público Federal (MPF). Na oportunidade serão atendidas mulheres deste município e região, que vivem nas aldeias e áreas de retomada.
“Todo encaminhamento é no sentido de que em Mato Grosso do Sul as políticas contra a violência e assegurar direitos das mulheres é muito precário e isso é muito grave pelo aumento de casos de violência nas aldeias Guarani Kaiowá”, explicou.
Ainda de acordo com ela, o objetivo é entender o cenário para fazer encaminhamentos específicos para construir ações efetivas para o enfrentamento deste problema nos territórios indígenas.
Já amanhã, é a vez de Campo Grande receber a comitiva, com evento que acontecerá no Museu de Imagem e do Som (MIS). Serão atendidas mulheres das etnias Kadiwéu, Kinikinau e Terena.
Também foi lançado, nesta quinta-feira (29) o dossiê sobre a intolerância religiosa “O Racismo e a Intolerância Religiosa: As sequelas de invasões (neo)pentecostais nos Corpos Territórios das Mulheres Kaiowá e Guarani/MS”, no qual a Grande Assembleia das Mulheres registra as violências que acontecem contra as indígenas e o território em que habitam.
AMAMBAI
A primeira cidade a ser visitada pela equipe do Ministério foi Amambai, onde as mulheres foram ouvidas para que as demandas sejam encaminhadas para o governo estadual e federal, bem como para o Executivo Municipal.
“A visita foi produtiva porque a violência nos territórios indígenas é real e a falta de redes para atender essas mulheres no setor público também. Não tem respaldo e nem retorno quando, por exemplo, o Cras [Centro de Referência de Assistência Social] quando é acionado nesses casos”, afirmou a vice-cacique da Aldeia Amambai Aguapoy, Lurdelice Moreira Nelson.
Ainda conforme o seu relato, a questão da violência contra a mulher indígena precisa de políticas públicas e um olhar diferenciado. Além disso, no entendimento da vice-cacique, a Lei Maria da Penha não é tão efetiva na proteção das vítimas.
“As medidas protetivas, por exemplo, são ineficientes porque é apenas um pedaço de papel e não é nada perto da violência que a gente sofre. Quando a gente sai de casa, o agressor pode estar solto em qualquer lugar”, afirmou.
A indígena ainda avalia que a visita da comitiva foi muito positiva e todas as mulheres foram ouvidas, sendo que a principal demanda foi por políticas públicas capazes de combater e prevenir os diversos tipos de agressões contra as indígenas.
Por fim, Lurdelice apontou que também foi solicitada a criação de uma Casa da Mulher Brasileira especializada no atendimento das mulheres que vivem nas aldeias e retomadas.