A Polícia Federal (PF) acionou a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) para poder colher o depoimento de jovens indígenas levados do Amazonas para a Turquia por uma organização islâmica.
Esta etapa da investigação foi repassada por Letícia Prado, delegada da PF do Amazonas, durante audiência na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (10/5), sobre um grupo islâmico que leva crianças e adolescentes indígenas de São Gabriel da Cachoeira (AM). É a primeira vez que a investigadora fala publicamente sobre o caso.
O caso foi revelado pela reportagem especial do Metrópoles “Em nome de Alá: grupo islâmico doutrina e leva indígenas do Amazonas para a Turquia“. Cinco jovens indígenas foram levados para a Turquia após serem retirados do interior do Amazonas quando eram adolescentes.
Durante a audiência, a delegada não deu detalhes da investigação devido ao sigilo, mas revelou que a Interpol já foi acionada para localizar os jovens levados para a Turquia.
“A escuta de nacionais brasileiros fora do país, ela ocorre de maneira formal, através da cooperação policial internacional. Levamos ao conhecimento da Interpol, a sede da PF em Brasília já tem conhecimento, e não estão evitando esforços no sentido de que nacionais brasileiros sejam contactados fora do país”, afirmou a delegada.
Proselitismo religioso
Letícia Prado lembrou que o proselitismo religioso, independentemente da religião, não é crime, como já foi definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, a PF investiga o funcionamento da organização dentro e fora do país para entender a motivação do grupo.
Uma primeira pré-investigação da PF havia sido enterrada em março de 2022, pois o delegado na época entendeu que não havia transnacionalidade no caso. Na audiência na Câmara, Letícia Prado disse que não ia comentar a pré-investigação anterior, mas que ao contrário do primeiro delegado, ela entende que há transnacionalidade.
Em 28 de fevereiro de 2023, a PF fez uma ação junto aos conselhos tutelares de Manaus para resgate de 14 adolescentes e uma criança que estavam alojadas de forma precária e irregular na sede dessa instituição na capital amazonense. Dezenas de crianças e adolescentes indígenas já passaram pela instituição.
O local não tinha cadastro para funcionar como alojamento, os alunos estavam comendo carne vencida, faltava limpeza, não havia documentação da guarda das crianças e dos adolescentes.
Essa ação das PF e conselhos tutelares aconteceu após articulação da Fundação Nacional dos Indígenas (Funai) com o Ministério dos Direitos Humanos (MDH), que provocou as autoridades do Amazonas.
A reportagem especial do Metrópoles revelou que uma organização turca intitulada Associação Solidária Humanitária do Amazonas (Asham) leva crianças e adolescentes indígenas de São Gabriel da Cachoeira (AM), maior cidade indígena do Brasil, na fronteira com a Colômbia.
Os adolescentes e as crianças são inicialmente enviados para Manaus, onde aprendem árabe, turco, lições do alcorão e a religião muçulmana. Em seguida, eles seguem para São Paulo e, por fim, quando completam 18 anos, vão para as cidades de Kutahya e Tarsus, em território turco.