Indígenas Guarani denunciaram estar sofrendo ameaças de um homem que afirma ser proprietário da terra ocupada por eles para a formação da retomada Tekoa Ka’aguy Mirim, no extremo sul de Porto Alegre, no dia 2 de maio. De acordo com os relatos, o sujeito teria cercado a entrada da área e colocado homens armados para impedir a entrada e saída de moradores e visitantes, com o objetivo de isolar as famílias e dificultar o acesso a doações.
Monica Guarani, liderança da retomada, afirmou que o homem teria declarado que ninguém mais poderia entrar no território e que as doações destinadas às famílias não deveriam ser entregues na área.
Conforme Ceniriani Vargas da Silva (Ni), coordenadora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM – Porto Alegre/RS), as famílias estariam sem água potável e sem energia elétrica para carregar celulares. “Ninguém pode sair para buscar água, pois corre o risco de sofrer violência ao tentar retornar”, afirmou Ni, que esteve no local e denunciou a situação.
A alegação do homem sobre ser o proprietário da terra é questionada pelos indígenas. “Essa área estava aqui há 20 anos, e não tinha dono”, afirmou Monica. “Aqui onde a gente mora tem eucalipto. Eu acho que foi por isso que ele ficou apavorado. Eu falei para ele: ‘Se vocês quiserem, podem tirar [os eucaliptos], mas a gente vai ficar aqui’. Ele nos chamou de invasores, e eu disse: ‘Não somos invasores. Nós somos os donos da terra, não os brancos. Quem chegou primeiro nessa terra, o branco ou o Guarani?’”.
A coordenadora do MNLM também questiona as alegações do homem. “Em relação a essa terra retomada pelos Guarani, todos na vizinhança sempre disseram que ela não tinha dono, até que este sujeito começou a derrubar árvores para retirar madeira da área de mata nativa. Se ele realmente é o proprietário, deve ir à Justiça e provar isso. Enquanto não houver uma decisão judicial, a posse da área é dos indígenas. Eles não podem ser impedidos de ir e vir, nem podem ser ameaçados. A luta pela retomada é legítima e reivindica tanto o território indígena histórico quanto a preservação do meio ambiente”, afirmou.
A liderança da retomada afirmou estar preocupada com as ameaças que a comunidade tem recebido, especialmente em relação à segurança das crianças: “Tem muitas crianças aqui. A situação é ainda mais perigosa à noite”.
Além das ameaças, o homem também teria tentado pressionar as famílias a se mudarem para outra localidade. “Ele ofereceu uma outra área para a gente, mas não vamos sair daqui. Vamos ficar aqui. E essa outra área, a gente não sabe se é realmente dele, talvez ele queira nos enganar”, disse Mônica.






