Estão abertas as inscrições para o VIII Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas para o Audiovisual (LANANI), promovido pela Globo, em parceria com a Festa Literária das Periferias (Flup). Elas podem ser feitas até o dia 31 de julho, por iniciantes ou aspirantes a roteiristas pelo site https://www.flup.net.br/.
O Laboratório é um processo de desenvolvimento para roteiristas que tem como objetivo abrir a porta do mercado para autores negros e indígenas. Esta é uma das iniciativas que materializa o compromisso da Globo em promover a diversidade e inclusão em seus conteúdos e equipes, assumido publicamente pela empresa em sua Agenda ESG.
Especialmente este ano, haverá um olhar da banca mais focado em projetos de humor, além de receber sinopses de séries e longas de ficção como nas edições anteriores. No total, 20 participantes serão selecionados e o anúncio da seleção está previsto para setembro.
“O LANANI, em consonância com nossa agenda ESG, visa facilitar a entrada no mercado audiovisual e promover a diversidade na criação artística, dando oportunidades a pessoas negras e indígenas. Através desse laboratório, buscamos reforçar a equidade de oportunidades e garantir que esses talentos tenham espaço para se destacar e prosperar”, ressalta Fellype Pontes, gerente do núcleo de gestão artística da Globo e responsável por ações de desenvolvimento para elenco e criadores.
Ao longo do Laboratório, os participantes terão 10 aulas, todas online, com acesso a um conteúdo focado na técnica, além de um momento presencial, quando os selecionados participarão de uma imersão nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro. As aulas fazem um giro pelo universo dos roteiros e diversos temas serão explorados, como conceitos básicos de narrativa e construção de personagens. Elas serão ministradas por roteiristas da Globo. Jorge Furtado, Rosane Svartman e Antonio Prata estarão na condução dos encontros, além do roteirista Diego Molina, que traz ao laboratório seus conhecimentos sobre Humor. Os participantes também contarão com a mentoria de profissionais da emissora como Antonio Prata, Leonardo Lanna, Michel Carvalho, Renata Correa, Renata Andrade, Renata Sofia e Thais Pontes.
Com um histórico de sucesso, o LANANI já revelou inúmeras potências artísticas, que contribuem com um mercado audiovisual mais diverso. Exemplos recentes de talentos oriundos do projeto são Cleissa Regina (Terra e Paixão, As Five 2 e 3), Hela Santana (Histórias Impossíveis e Encantado’s), Renata Sofia (Vai na Fé e No Rancho Fundo), Kariny Martins (Espécie Invasora) e Dione Carlos (Guerreiros do Sol).
Além destes profissionais, na turma do Laboratório concluída em abril deste ano, o jornalista e carioca Gilberto Porcidonio teve seu argumento comprado pela empresa, agora em fase de desenvolvimento. Para ele, a oportunidade teve um gosto ainda mais especial, pois estava sem perspectivas na ida e o LANANI surgiu para incentivá-lo a escrever e se arriscar.
“Em um ano que eu sentia que estava completamente à deriva, me sentindo apenas sendo jogado de um lado para o outro, eu peguei uma ideia minha rascunhada há apenas alguns meses e a estruturei para o LANANI, pois ainda nutria um sonho ancestral de ganhar a vida contando as minhas próprias histórias. Hoje, sinto que estou voltando pro meu prumo e desbravando mares já sonhados, porém, nunca antes navegados, graças às guianças do Laboratório. Quando me bate o temor de me perder de novo, a lembrança de que eu sou um ‘lananer’ me surge como um farol, já que a maior lição do LANANI foi me fazer conhecer de perto tanta gente extraordinária, inclusive aquelas que estavam dentro de mim”, relata.
Na mesma turma, estava o professor de Literatura Edson Oliveira, de Santo Estevão, Bahia. Edson também teve seu argumento comprado no final do processo, e avalia a oportunidade como um divisor de águas em sua vida.
“Estou certo de que foi uma das experiências formativas mais incríveis que experimentei, por tudo aquilo que vi, ouvi e foi partilhado. Saí dessa aventura, completamente apaixonado pelo mundo do roteiro e do audiovisual, certo de que nossa existência se torna mesmo mais bonita, quando nos dispomos a observar o mundo e a contar histórias, a partir daquilo que nossos ancestrais nos ensinaram. A palavra é realmente uma força viva”, conta ele.
Para o engenheiro agrônomo com pós-graduação em Educação Ambiental, Porake Mundukuru, que teve o argumento selecionado para o pitch, ter participado do Laboratório foi a experiência mais inusitada e surpreendente de sua vida. De Ananindeua, no Pará, ele teve um único trabalho na carreira como roteirista no jogo digital chamado Gamezônia, premiado como melhor jogo digital no Festival Guarnicê de Cinema de São Luís, no Maranhão, e soube das inscrições por um familiar que promove festivais de cinema indígena no Estado.
“Eu jamais acreditei que teria chances reais de ingressar no Laboratório, afinal, não tinha muita experiência no meio. Eu era apenas um mombe’usara indígena (guardião das memórias ancestrais do povo indígena) de mais de 40 anos, que tinha como única experiência prévia ter assinado o roteiro de um jogo digital sobre educação ambiental voltado para o público infantil. Fiquei genuinamente surpreso quando fui comunicado que havia sido selecionado. E a alegria só foi crescendo com as oportunidades de conhecer profissionais que sempre admirei, como o diretor Jorge Furtado, e pessoas incríveis como a minha mentora e madrinha na carreira, Jô Abdu, além de tantos outros colegas jovens e talentosos como a minha parenta, Jama Wapichana, e a minha parceira de mentoria, Xavier Amorim. Ter chegado à última fase, tendo meu projeto selecionado para a etapa de pitch foi realizar um sonho. Foi uma jornada incrível de autoconhecimento, superação e abertura de novos horizontes em um momento especialmente desafiador da minha vida. Sou e sempre serei muito grato pela oportunidade que recebi e que me colocou em um novo rumo como profissional e ser humano”, ressalta ele, atualmente pesquisador associado da PAVIC (Pesquisadores de Audiovisual, Iconografia e Conteúdo), vínculo que considera fruto do LANANI.
As sete edições do LANANI tiveram números expressivos: mais de 2.500 inscrições,156 participantes e argumentos entregues, mais de 20 roteiristas contratados pela Globo e o especial de Natal Juntos a Magia Acontece, produzido a partir do argumento de Cleissa Regina construído no Laboratório, vencedor do Leão de Ouro na categoria Entretenimento no Festival Internacional de Criatividade de Cannes 2020/2021.
A 8ª edição do Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas para Audiovisual acontece entre 16 de setembro e 01 de dezembro deste ano.