Belém e Brasília — O Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, o equivalente a 0,83% da população total. Os dados, divulgados nesta segunda-feira, são do Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que houve crescimento de mais de 88% desses povos originários desde 2010, quando eram contabilizados 896. Segundo o órgão, o aumento está ligado às mudanças metodológicas da aplicação da pesquisa.
No Censo Demográfico de 2010, o quesito de raça e cor foi aplicado a todas as pessoas recenseadas no país, mas apenas para as residentes em terras indígenas reconhecidas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) era feita a pergunta: “Você se considera indígena?” No levantamento de 2022, esse questionamento foi ampliado para outros locais, que incluem os agrupamentos indígenas identificados pelo IBGE e as outras localidades que são ocupações domiciliares dispersas em áreas urbanas ou rurais com presença comprovada de integrantes desses povos originários.
Maiara Pessoa, de Baía da Traição (PB), é da etnia Potiguara e atuou na coleta de dados do Censo de 2022. Ela relatou que os recenseadores obtiveram auxílio nas aldeias. “Tivemos apoio dos caciques, que ajudaram na divulgação do trabalho dos recenseadores”, contou. “Saber que o trabalho que realizei será usado pelos próximos 10 anos e que será essencial para o povo Potiguara me dá muito orgulho”, enfatizou.
Conforme os dados, a Região Norte concentra grande parte dos indígenas do país (44,48%), o que totaliza 753 mil pessoas. O Nordeste aparece em seguida, com 528 mil, concentrando 31,22% do total (veja quadro).
Bruna Flávia Tabajara, da Aldeia Vitória, em Conde (PB), disse enxergar os dados do Censo 2022 como “um avanço muito importante para os povos indígenas, pois tivemos um aumento expressivo de indígenas neste Censo”. “Isso é o fortalecimento dos povos também, pois existiam muitos indígenas em contexto urbano que não se autodeclararam e que, neste novo Censo, se autodeclarou e afirmou sua identidade”, destacou.
O Censo contabilizou 573 terras indígenas delimitadas no país em 2022. A mais populosa é a Terra Indígena Yanomami, com 27.152, ou 4,36% do total de integrantes em terras indígenas. A Raposa do Sol (RR) aparece logo em seguida, com 26.176 indígenas, e a Terra Indígena Évare (AM), em terceiro lugar no ranking, com 20.177.
Em Belém, cidade que recebe a Cúpula da Amazônia, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, elogiou a equipe do Censo que conseguiu chegar “nos territórios de mais difícil acesso”. Ela reforçou que essa atuação fortalece os dados obtidos. “Para nós, é importante, porque facilita, inclusive, a elaboração de políticas públicas adequadas a cada uma dessas realidades onde estão presentes os povos indígenas”, ressaltou.
Perguntada pelo Correio sobre o aumento da população indígena estar atrelado à juventude, afirmou: “Esse próprio item do pertencimento fortaleceu que os povos indígenas que estão em contexto urbano também pudessem se apresentar com indígenas.”
Protesto
Indígenas de diferente etnias protestaram, nesta segunda-feira, em Belém, após três integrantes do povo Tembé terem sido baleados em Tomé-Açu, no nordeste do estado. As vítimas foram duas mulheres e um homem, que receberam atendimento médico.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, os tiros foram dados por seguranças de uma empresa que explora dendezais. Já a companhia alega que os seguranças reagiram porque indígenas incendiaram equipamentos e edificações.
A Secretaria de Segurança Pública do Pará informou que as circunstâncias do caso serão apuradas e que o policiamento na área foi reforçado.