A sanha da Petrobras e dos ministérios de Minas e Energia e Casa Civil de explorar petróleo “até a última gota” no Brasil, em especial na foz do Amazonas, não é novidade. Após um período de relativa calmaria na pressão, com falas soltas aqui e ali, a petroleira resolveu retomar a artilharia e mencionar publicamente o IBAMA pela licença de perfuração de um poço no FZA-M-59. E isso no meio da tragédia no Rio Grande do Sul, cuja principal causa são as mudanças climáticas causadas pelos combustíveis fósseis que a companhia tanto quer explorar.
O que a petroleira não contava era que o órgão acatasse a recomendação da FUNAI de consulta a Povos Indígenas da região do Oiapoque, no Amapá, antes de qualquer decisão no processo de licenciamento. Assim, o IBAMA solicitou à Petrobras uma série de estudos para apurar os impactos “sociais, culturais e ambientais” da perfuração sobre os indígenas, informam UOL e Terra.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que tinha a expectativa de começar a perfurar no FZA-M-59 ainda neste ano. No entanto, os estudos adicionais provavelmente levarão pelo menos seis meses, de acordo com uma pessoa próxima da FUNAI.
Durante a OTC, o maior evento da indústria petrolífera global, realizado em Houston na semana passada, Prates disse que queria retomar conversas com o IBAMA para tentar autorização para um simulado de perfuração do poço em outubro, quando a plataforma contratada para essa atividade estará disponível, relata a Folha, em matéria repercutida pelo Brasil 247.
Segundo Prates, caso a autorização pré-operacional (APO) – uma das etapas antes da emissão da licença, explica o Valor – fosse concedida pelo órgão nos próximos meses, seria uma “janela ideal” para que a sonda conclua os trabalhos, passe por limpeza de casco e preparação e chegue ao Amapá.
E para variar, o presidente da Petrobras voltou a repetir o mantra falacioso de que o Brasil se tornará importador de petróleo se não explorar combustíveis fósseis na foz. E reforçando o rol de falácias, o diretor de Exploração e Produção da estatal, Joelson Mendes, disse à Folha que a única “saída” do Brasil para aumentar suas reservas de combustíveis fósseis é a margem equatorial, onde a foz do Amazonas está localizada.
Segundo Mendes, a margem é necessária porque não há mais esperança de encontrar grandes reservas de petróleo no pré-sal – apesar das projeções apontarem potencial de 100 bilhões de barris e até o momento somente 15 bilhões terem sido descobertos. E da projeção da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em Inglês) de queda na demanda por petróleo a partir de 2030.