Desde que jovens indígenas começaram a estudar fora da Terra Indígena Anambé, no Alto Rio Cairari, no nordeste do Pará, a antiga língua Anambé, do Tupi-Guarani, e tradições culturais que estavam perdidas foram aos poucos sendo retomados nas aldeias.
Uma entre esses indígenas é Danielle Souza, a primeira antropóloga do povo Anambé, formada pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela vai mediar uma roda de conversa nesta sexta-feira (24) no Museu Emílio Goeldi, sobre a reescrição de línguas indígenas.
Além de Danielle, que vive em Belém, atualmente há outros jovens indígenas vivendo em cidades paraenses como Ananindeua, Mocajuba, Marabá, e até no Rio de Janeiro. Eles continuam mantendo ligações com a aldeia de origem mesmo de longe.
“Essa retomada das tradições culturais vem acontecendo há uns dois anos, quando jovens que saíram da aldeia para estudar tomaram a frente da organização política nas aldeias. A principal dessas retomadas é a língua por meio da oralidade. Quando deixamos o isolamento político, entrando em contato com instituições científicas, começamos a retomar no cotidiano a volta da nossa fala de origem”, ela explica.
O povo indígena Anambé vive na TI Anambé, que fica no município de Moju. A área de proteção foi homologada em 1991, possui tem 8 mil hectares, onde vivem 203 pessoas, segundo as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentro da TI, há três aldeias do povo Anambé: Mapurupy, Yetehu e Yrapã.
Uma das tradições que estava sendo perdida nas aldeia é um canto feito pelos guerreiros antes de saírem para caça ou pesca.
“Essa tradição foi deixada de ser praticada por muitas décadas e, hoje, é uma das que foram retomadas”, explica Danielle.
Além de Danielle, outros representantes do povo Anambé participam da programação no Museu Paraense Emílio Goeldi, denominada “Museu Goeldi é terra indígena”.
A roda de conversa na sexta-feira conta ainda com participação da linguista especialista Dra Ivânia Neves, do Grupo de Estudo Mediações, Discursos e Sociedades Amazônicas (Gedai), da UFPA; e a vice-cacique da aldeia Mapurupy, Erē Anambé.
Para Danielle, o evento marca a busca por diálogos entre a ciência e os povos indígenas a fim de potencializar as retomadas e reescrição das línguas indígenas que quase foram perdidas.
“A língua Anambé é uma língua do Tupi-Guarani antigo e que se perdeu com o tempo. Com ajuda da ciência, estamos buscando retomar nas aldeias os ritos, as celebrações culturais, a língua de origem no dia a dia, e principalmente, ensinando por meio da oralidade às nossas crianças, com a ajuda dos nossos anciões”.
Vice-cacique da aldeia Mãe Mapurupy, Eré Anambé afirma, que um tempo atrás, o povo quase foi extinto, deixou de falar a língua de origem, “por conta de pressão, isolamento político e racismo”.
“Somos um povo que resistiu muito pra existir. Hoje nós jovens acordamos para lutar pelos nossos direitos, participando dos eventos do movimento indígena, para nos fortalecer e mostrar nossa cultura”.