A comunidade Itaty, no Morro dos Cavalos, em Palhoça, sedia desde essa segunda-feira (14) o encontro regional 5° Acampamento Terra Livre Sul (5º ATL Sul) com representantes de povos indígenas dos três estados do sul do país. O evento, que se propõe a dar visibilidade aos indígenas Guarani, Kaingang e Xokleng, discute temas como demarcação e direitos, juventude, mulheres, diversidade, educação e saúde indígena.
Até o começo da tarde desta segunda, estavam presentes 87 indígenas. No primeiro dia de debates, o foco foi a importância da juventude na luta pela demarcação dos territórios. Outra questão trazida pelos jovens diz respeito aos direitos LGBT´s e a diversidade dentro das comunidades.
Os jovens conversaram sobre como esse tema está sendo abordado nas aldeias e a necessidade de acolhimento e da inclusão na sociedade. O assunto tem estado presente em todos os eventos que reúne a juventude dos originários, no sentido de que o “duplo preconceito” não se perpetue.
Para a juventude indígena, é preciso tirar o pensamento colonial da cabeça das pessoas. Uma das ferramentas para a discussão é o Coletivo Tibira, o qual conta com integrantes de diferentes etnias e regiões. Com isso, os jovens buscam dar visibilidade sobre uma pauta que ainda segue marginalizada.
Tupinambá foi executado por religiosos para “servir de exemplo”
Historicamente, no entanto, há um caso que demonstra o quanto a sociedade nega a questão da diversidade entre os indígenas: trata-se de um dos primeiros casos de homofobia, registrado no Maranhão, em 1614, quando houve um assassinato de um indígena tupinambá “para servir de exemplo” do que não era permitido à época.
O tupinambá foi executado por religiosos que justificaram a condenação alegando “purificação da terra das maldades dos indígenas”. A execução foi relatada pelo frade franciscano Yves d’Évreux, que não registrou o nome do indígena, sendo Tibira um nome dado por Luiz Mott, antropólogo, historiador e fundador do Grupo Gay da Bahia.
Para a juventude indígena, que aos poucos viu a bandeira do arco-íris ir ocupando espaço em suas manifestações, é preciso lembrar que o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contou 305 etnias diferentes no país e que representam identidades distintas, sendo possível que também lidem com a sexualidade e gênero de maneira diferentes.
Para às 14h de quarta (16), está previsto um ato no Centro de Florianópolis com o tema Povos Indígenas contra o Marco Temporal. O projeto é uma tese jurídica segundo a qual os povos indígenas têm direito apenas às terras que ocupavam ou já disputavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição. O julgamento deve ser retomado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro.