Do outro lado do gramado na estreia da Copa 2 de Julho, a Seleção Brasileira Sub-15 terá um adversário com uma história mais do que especial. O Gavião Kyikatejê-PA é o primeiro time indígena do Brasil, cuja aldeia do povo Kyikatejê-Gavião fica em Bom Jesus de Tocantins-PA, município localizado a cerca de 9h de carro e distante em torno de 450km da capital Belém. As duas equipes se enfrentam na abertura da 2 de Julho, nesta terça-feira (2), às 17h, no Pituaçu, em Salvador.
A equipe foi criada em 2007 e, após dois anos de existência, foi profissionalizada em 2009. Além de fundador, o cacique do povo Kyikatejê-Gavião, Pepkrakte Jakukreikapiti, conhecido também como Zeca Gavião, é o treinador do time profissional e emprestou seu nome ao clube.
Ainda enquanto amador, o Gavião se destacava na região e seus jogadores – entre eles Aru, principal ídolo do clube – despertavam interesse de times profissionais. Eles chegaram a fazer alguns testes. Em um deles, apesar de irem bem nas atividades, ouviram que não poderiam se assumir como indígenas enquanto não fossem contratados. E no outro, após afirmar que eram indígenas, foram rejeitados. Ambas situações irritaram Zeca, que decidiu fundar o Gavião.
Hoje, o Gavião conta com o time profissional masculino, que disputa a Terceira Divisão do Campeonato Paraense, e com as categorias Sub-15, Sub-17 e Sub-20. O time apresenta também um time feminino, que se destacou recentemente no Campeonato Paraense. Em 2022, foi vice-campeão com a derrota para o Remo na decisão. Em 2023, a equipe foi eliminada nas quartas de final.
Ao longo dos 15 anos de história, Aru foi o grande destaque. Artilheiro, marcou, em 2014, o primeiro gol do Gavião em um Campeonato Paraense, contra o Paysandu, no Curuzu. O atacante atuou também por São Raimundo-PA, Tanabi-SP e Palmas-TO.
Ele faleceu em 2018, vítima de um acidente de carro. Deste então, o número 9 usado por Aru foi aposentado pelo Gavião Kyikatejê.
Em dezembro de 2022, aos 55 anos, Zeca Gavião se tornou o primeiro indígena com curso superior de futebol. Ele se formou em uma universidade de Joinville, em Santa Catarina. A partir do diploma, seu desejo é capacitar indígenas para poderem ser árbitros, fisioterapeutas, preparadores físicos e treinadores.
Aliás, apenas participar da competição em Salvador já é uma conquista histórica para o Gavião. Será a primeira vez em que disputam uma partida fora do estado do Pará. E a viagem até a capital baiana foi feita de ônibus. A delegação saiu na madrugada de domingo (30) para enfrentar a Amarelinha.
Kyikatejê, na língua Timbira Oriental, significa “povo do rio acima”. O nome do Gavião reforça as raízes de seus jogadores, que entram em campo com uniforme em alusão às pinturas corporais e representando um escudo cujo formato simboliza a ponta de uma flecha.
Zeca sonha com, um dia, ver o Gavião disputando competições nacionais como a Copa Verde e a Copa do Brasil, com um elenco inteiramente indígena. É tendo esse objetivo em mente que investe nas categorias de base a fim de formar atletas para as categorias futuras e que os jogadores indígenas do Gavião Kyikatejê enfrentarão a Seleção Brasileira Sub-15 na estreia da Copa 2 de Julho.