Em mais uma demonstração de que estão cansados de esperar pelo Estado brasileiro para a conclusão dos procedimentos demarcatórios de seus territórios, os Guarani e Kaiowá da Terra Indígena (TI) Dourados-Amambaipeguá III retomaram na noite deste domingo (21) uma área em Porto Cambira, inserida na demarcação reivindicada pelo povo e em processo de identificação.
“Queremos mostrar que não vamos mais aceitar essa situação de viver vendo nossas terras sendo usadas para enriquecer os invasores enquanto estamos em espaços pequenos, sem espaço para plantar, sendo ameaçados, passando necessidades. Exigimos a demarcação”, disse Guarani e Kaiowá – que não identificamos por motivos de segurança.
Após a retomada, na manhã desta segunda-feira (22), homens armados invadiram a retomada, atiraram contra os indígenas e incendiaram os barracos. No entanto, os Guarani e Kaiowá conseguiram afugentar o bando e se mantiveram na retomada. O ambiente ainda é de tensão e os indígenas acreditam que podem sofrer novos ataques.
Os Guarani e Kaiowá pedem a presença da Coordenação Regional da Funai de Dourados antes que novos ataques ocorram, bem como da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP)
A TI Dourados-Amambaipeguá III, localizada às margens do rio Dourados, fica na divisa entre Dourados e Caarapó. A conclusão da demarcação da TI foi pactuada entre a Funai e o Ministério Público Federal (MPF) em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de 2007.
A Funai restabeleceu o Grupo de Trabalho (GT), responsável pelo Relatório Circunstanciado de Delimitação e Identificação (RCDI), neste ano. Em 2013, o GT então nomeado teve o trabalho paralisado por questões administrativas, atrasando ainda mais o cumprimento do prazo pactuado pelo TAC.
Neste domingo, os Guarani e Kaiowá haviam retomado também a Fazenda Ipuitã localizada dentro dos limites da Terra Indígena (TI) Guyraroká, em Caarapó. A área, declarada pela Funai como de ocupação tradicional, aguarda a conclusão do processo de homologação. Nesta segunda (22), a retomada sofreu um despejo ilegal executado pela Tropa de Choque da Polícia Militar.