“A leitura da trajetória do Ypiranga dos Guaranys nos traz ao momento que vivemos hoje. Os Guarani costumam usar a metáfora do arco e flecha da memória para retomar o controle de seu destino: ‘Agora, no tempo presente, é preciso recuar a corda do arco ao passado, para de lá impulsionar a flecha ao futuro’”. Mote de questão do vestibular 2023 do Departamento de Antropologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o texto do professor José Ribamar Bessa Freire aponta para um personagem cuja trajetória singular é revelada em O primeiro indígena universitário do Brasil — Dr. José Peixoto Ypiranga dos Guaranys (1824-1873), de Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira e Marcelo Sant’Ana Lemos. A obra foi lançada em 2023, pela Sophia Editora, nos formatos impresso, e-book e audiobook.
“Será que a minhoca comeu a alma de José Peixoto Ypiranga dos Guaranys?”, questionou Bessa Freire – professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio) – em seu blog “Taquiprati”, repetindo a pergunta que fez aos autores durante o lançamento do livro, em março, na Livraria Eduerj.
“Ele é um ponto fora da curva porque se mantém na elite”, pontuou Luiz Guilherme em entrevista ao jornal O Globo.
No aldeamento de São Pedro de Cabo Frio, dois anos depois da Independência do Brasil (1822), nascia José Peixoto Ypiranga dos Guaranys (1824-1873). Ele se formou bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1850, tendo como colega de turma o romancista José de Alencar, autor dos clássicos Iracema e O guarani. Durante seus 49 anos de vida, Ypiranga dos Guaranys foi proprietário de terras e de escravizados. Trabalhou como comerciante, advogado, promotor público, vereador e inspetor escolar em diversas cidades.
Segundo os pesquisadores, desde a infância Ypiranga dos Guaranys visitava a corte e acompanhava o pai, Joaquim Rodrigues Peixoto, no comércio de cabotagem, realizado na Baía de Guanabara. Inclusive, foi Joaquim Rodrigues o primeiro a pedir ao Estado financiamento para que indígenas pudessem cursar a universidade – o que lhe foi negado.
Os autores contam que a turma de Ypiranga dos Guaranys era heterogênea, uma vez que tinha alunos de sete províncias diferentes. Entre eles havia futuros juízes, ministros, escritores, parlamentares e nobres do Império. No primeiro ano do curso, Ypiranga dos Guaranys, juntamente com seus colegas de turma, fundou o Instituto Literário Acadêmico, responsável por publicar a revista Ensaios Literários.
“O que mais chama a atenção na história dele é que, no fim do século XX e início do XXI, os indígenas foram galgando não só a universidade, no primeiro momento, mas, em seguida, foram fazendo mestrado, virando até professores universitários. Esse ineditismo, esse protagonismo de Ypiranga dos Guaranys é muito importante para entender essa história e seus desdobramentos. Hoje temos indígenas mestres, doutores. Há novas conquistas e, também, novas ameaças, como o marco temporal”, sublinha Marcelo.
A publicação conta com patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ2, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, e marca a celebração do Bicentenário da Independência do Brasil.
Editora proporcionou formação para professores
Fruto de uma parceria da Sophia Editora com a Secretaria Municipal de Educação de Cabo Frio, por meio da Coordenadoria de Formação Continuada e Coordenadoria de Projetos e Programas Especiais, os autores ministraram palestra virtual para profissionais da Educação de Cabo Frio, em outubro de 2022. O encontro contou com a participação de servidores de 25 escolas do município.
“Questões ligadas à luta dos negros e dos indígenas devem sempre fazer parte da ordem do dia em nossas salas de aula, não apenas em datas comemorativas. Certamente, conhecer a história do primeiro indígena universitário do Brasil despertou a curiosidade dos nossos professores e estimulou ainda mais a abordagem do tema com os alunos em todos os anos da escolaridade, enriquecendo a discussão sobre aspectos importantes das raízes indígenas da nossa região”, ressaltou Débora Ribeiro, coordenadora da Formação Continuada da Secretaria de Educação de Cabo Frio.
Quem são os pesquisadores
Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira – Doutor em História pela UFF (2015). Mestre em História Social pela UFRJ (2010). Bacharel e Licenciado em História pela UFRJ (2001). Professor das redes municipais de ensino de Armação dos Búzios e Cabo Frio. Tem se dedicado a pesquisar questões ligadas à temática da História Indígena, a História Militar e a popularização da História da Região dos Lagos. Em 2010, publicou Os índios na história da aldeia de São Pedro de Cabo Frio – séculos XVII-XIX, em coautoria com Janderson Bax Carneiro. Em 2018, juntamente com Rose Fernandes, publicou Cabo Frio e a pesca da baleia na ponta dos Búzios (séculos XVIII e XIX). Em 2020, em coautoria com José Francisco de Moura, publicou História de Cabo Frio – dos sambaquieiros aos cabo-frienses. Em 2021, publicou o livro infantil História de Cabo Frio contada à minha filha.
Marcelo Sant’Ana Lemos – Possui graduação em Geografia (1986) e mestrado em História (2004), ambos pela UERJ. Foi professor do Colégio Pedro II (1993-2011), da rede pública estadual (1999-2006) e de cursos de pós-graduação na Universidade de Vassouras e na UFRJ. É autor de livros sobre a história indígena fluminense e de crônicas, bem como organizador de cursos sobre temática indígena para professores da rede pública estadual e municipal e para o público em geral. Também apresenta palestras e lives sobre esses assuntos.
Características
TIPO brochura
FORMATO 14×21
PÁGINAS 130
PESO 180 grama
ISBN 978-65-88609-24-8
LINK https://www.sophiaeditora.com….