Uma jovem indígena, da etnia potiguara, que tem deficiência motora, usa cadeira de rodas e é praticante de surfe adaptado. Trata-se de Anamã, protagonista do recém-lançado “A menina potiguara”. Com prefácio da atriz Dira Paes, a obra é o 11º título da série infantil Literatura Acessível, criada pela psicóloga e doutora em Educação Carina Alves, moradora do Recreio, com a proposta de discutir diversidade e acessibilidade.
— O projeto Literatura Acessível tem essa característica de trazer o esporte como uma ferramenta superpotente de inclusão de pessoas com e sem deficiência — explica a autora, fundadora do Instituto Incluir, focado principalmente na inclusão de pessoas de baixa renda com deficiência. — Anamã vai mostrando os desafios do seu dia a dia, na escola, no transporte, e a dificuldade de encontrar acessibilidade no caminho até o treino de surfe. A obra retrata também os costumes e a história dos povos indígenas e traz a questão do empoderamento de meninas e mulheres.
O livro tem ilustrações de Roney Bunn e curadoria de Luciana Graciano, indígena potiguara e coordenadora de inclusão da Secretaria de Educação do município de Baía da Traição, na Paraíba. A escritora conheceu Luciana em julho de 2022, durante uma viagem à cidade para visitar aldeias de povos originários.
— “A menina potiguara” é resultado de uma imersão que fiz em 13 aldeias da etnia potiguara em Baía da Traição — relata. — Eu já tinha interesse em mergulhar mais neste universo desde que minha mãe me contou que nossa família tem ascendência no povo puri. Tive, então, oportunidade de dialogar com a Luciana, fechamos alguns projetos em conjunto e saí de lá com a cabeça fervilhando. Comecei a rascunhar algumas histórias, e nasceu o livro.
Assim como os demais títulos da série, o livro é disponibilizado com fontes ampliadas, braille, descrição de imagens e audiodescrição, que pode ser acessada através de QR code, e será doado para escolas. Interessados em comprá-lo, ao preço de R$ 50, devem acessar o site literaturaacessivel.com.br.
— Minha inspiração veio de tudo que vi lá: desde a agricultura familiar até muitas crianças e jovens com deficiência, o que me surpreendeu demais. Eu não imaginava que havia tantas pessoas nessa condição nas aldeias. Isso me deixou muito mais atenta à interseccionalidade dos temas da diversidade, e pude unir a questão indígena com a da deficiência — conta. — Minha expectativa é sempre despertar o pensamento crítico, o respeito ao próximo e o entendimento de que nossa riqueza está na diversidade; não no que é igual. É um chamado para que as escolas e outros ambientes valorizem e aceitem de fato a pluralidade.