A liderança indígena Txai Suruí comemorou após ter o trecho de discurso dela incluído em uma questão da primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizada neste domingo.
Na rede social X (antigo twitter), a fundadora do Movimento Juventude Indígena de Rondônia disse que ficou feliz ao saber que uma questão do ENEM tratou sobre seu discurso na Conferência do Clima da ONU (COP 26) em 2021, na Escócia.
“Acredito que isso significa que nossa luta está sendo ouvida de alguma forma e são preocupações que devem ser transmitidas para nossos jovens e crianças”, disse a indígena do povo Paiter Surui.
Em 2021, na ONU, Txai discursou por dois minutos, em fala que lembrou que a Terra “nos diz que não temos mais tempo” e denunciou a morte do amigo Ari Uru-Eu-Wau-Wau. Ele registrava extrações ilegais de madeira de sua reserva, em Rondônia, e foi encontrado morto, com marcas de espancamento, em 2020.
Na questão 52, a primeira etapa do Enem traz um trecho do discurso de Txai: “O clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo”.
Em seguida, é questionado qual problema global está relacionado ao discurso da índigena, com as seguintes alternativas:
- manejo tradicional;
- reciclagem residual;
- consumo consciente;
- exploração predatória;
- reaproveitamento energético.
Aos 26 anos, a jovem ainda estende a atuação da sua luta pela defesa dos direitos indígenas e preservação do meio ambiente atuando como conselheira na WWF Brasil e no Pacto Global da Organização das Nações Unidas.
Confira abaixo a íntegra do discurso da líder indígena:
“Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.
Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.
Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda?
Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.
Não é 2030 ou 2050, é agora!
Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza.
Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.
Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.
É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.
Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.
Obrigada!”