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Intercâmbio entre mulheres indígenas debate cuidando e a proteção dos territórios no extremo Sul da Bahia

O encontro reuniu cerca de 80 mulheres indígenas na Aldeia Pequi, território Comexatibá. Foto: Cimi Regional Leste

“Cuidando de quem cuida, na proteção dos territórios ameaçados”, esse foi o tema de mais um intercâmbio entre os povos indígenas do Sul e extremo Sul da Bahia realizado entre os dias 5 a 7 deste mês, na Aldeia Pequi, território Comexatibá, localizado no município do Prado (BA). O evento contou com a participação de aproximadamente 80 pessoas, mulheres, jovens, crianças e anciãs.

Voltado a participação das mulheres, o objetivo foi intercambiar saberes, processos organizativos, ampliar as redes e espaços de luta, bem como fortalecer as relações e as lutas nos territórios dos povos Pataxó, Tupinambá de Olivença e Pataxó Hã-Hã-Hãe.

O intercâmbio foi marcado por muita espiritualidade, cuidados terapêuticos, rodas de conversas, brincadeiras, celebrações, festa cultural e lazer na praia. Foto: Cimi Regional Leste

A importância do encontro e abordagem do tema foram destacados por Adriana, cacica do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe. “É muito importante para nós mulheres indígenas e lideranças, pois o cuidado perpassa por tudo, mas principalmente pela alternativa de sustentabilidade, pelas praticas do plantar e colher que vão fortalecendo e protegendo a nossa morada, também combatendo as violências que nos persegue”, listou.

O intercâmbio foi marcado por muita espiritualidade, cuidados terapêuticos, rodas de conversas, brincadeiras, celebrações, festa cultural e lazer na praia. A assessoria ficou por conta Ubiraci Pataxó, terapeuta indígena, mestre do saber, cuidador de pessoas, e como ele mesmo se define: “Sou aprendiz de Pajé”. A coordenação e a animação ficaram por conta de Alda Maria e Janaína Nunes, ambas do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Leste, que com apoio de Adveniat e Misereor, tem auxiliado essas iniciativas e outras que buscam fortalecer o protagonismo e ampliação da participação das mulheres indígenas.

As práticas de cuidado, alimentares, metodológicas e o acolhido foram realizadas pelas lideranças da comunidade anfitriã. Foto: Cimi Regional Leste

As práticas de cuidado, alimentares, metodológicas e o acolhido foram realizadas pelas lideranças da comunidade anfitriã.

“Cuidado é uma palavra ou uma ação que pouco falamos pois estamos tão condicionadas à violência que nem temos tempo para pensar sobre, especialmente nós mulheres que estamos em áreas de retomadas é uma tensão a todo momento”, destaca Ingrid, da Aldeia Rio Cahy.

A região onde aconteceu o encontro é impactada por empreendimentos e monocultivos afetando diretamente os territórios, águas, florestas e o clima. Além disso, repete o modelo de desenvolvimento aplicado no país desde a chegada dos portugueses, a expropriação dos recursos naturais e acúmulo da riqueza em oligarquias.

A organização destes espaços de intercâmbio tem sido fundamentais para a participação massiva das mulheres indígenas e o fortalecimento de seus territórios. Foto: Cimi Regional Leste

O principal desafio dos povos indígenas nesta região continua sendo a falta de territórios sustentáveis, o aumento exacerbado da violência vitimando principalmente a juventude. Entre os exemplos listados pelas participantes estão o Movimento Invasão Zero e a Lei 14.701/2023, que determinando a aplicação do marco temporal para demarcações de terras indígenas – e ignora o fato de que esta tese já foi definida como inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“Esses problemas se desdobram em diversos outros, como perda da identidade cultural, falta de saúde de qualidade, falta de educação especial, pobreza extrema, suicídios, adoecimento mental, violência contra o patrimônio e as pessoas”, alertam as participantes do intercâmbio.

O encontro reuniu cerca de 80 mulheres indígenas na Aldeia Pequi, território Comexatibá. Foto: Cimi Regional Leste

Essa é uma das razões pelas quais o Cimi Regional Leste tem construído juntos aos povos espaços de diálogo sobre o autocuidado e a saúde mental. O objetivo é realizar novos encontros e o fortalecimento das redes de mulheres, seja para a auto sustentabilidade, a valorização de saberes tradicionais, o autocuidado ou a incidência política.

A organização destes espaços de intercâmbio tem sido fundamentais para a participação massiva das mulheres indígenas e o fortalecimento de seus territórios. “A organização destes espaços de trocas tem tido valorosas contribuições as lutas no fortalecimento das organizações das mulheres dentro e fora das comunidades”, destaca Haroldo Heleno, coordenador do Cimi Regional Leste.

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