MANAUS, Amazonas – Diferentes cortes e cores de cabelo, maquiagens coloridas e roupas com mensagens e construções de luta mostraram a diversidade de um grupo que reuniu coletivos e pessoas indígenas das etnias Apurinã, Baré, Dessana, Kanamari, Kokama, Kulina, Sataré-Mawé, Tukano e Tikuna em Manaus.
O grupo se reuniu no início de outubro para participar da “Oficina Movimentando os Saberes com a Tecnologia Ancestral e Direitos!”, promovida pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). O objetivo da oficina foi dialogar e pensar em caminhos que atendam às demandas das populações a partir de suas vivências, realidades e necessidades, e da utilização de estratégias de comunicação popular para a garantia de direitos.
Processos de construção
Antes da oficina, a equipe do UNFPA se reuniu em julho com jovens indígenas LGBTQIA+ nos territórios para mapear elementos e demandas que o grupo considera mais urgente o aprofundamento. Dessa primeira escuta, a comunicação foi definida como ferramenta de garantia de direitos a partir dos eixos de visibilidade, valorização e proteção – que foram os eixos que guiaram a agenda da oficina:
“Durante a primeira escuta com as populações, notamos que as pessoas indígenas LGBTQIA+ tem demandas que precisam ser ouvidas em sua integridade. Portanto, sentimos a necessidade de promover um espaço seguro para que as pessoas pudessem compartilhar suas urgências e construir conjuntamente caminhos para essas questões a partir da comunicação”, explica a Chefe de Escritório de Manaus Débora Rodrigues.
O primeiro momento da oficina foi uma dinâmica de expressão corporal com a participação da Professora Francis Baiardi, Diretora Produtora e Bailarina Amazonense. Este momento prévio à oficina teve como propósito promover um espaço de acolhimento e segurança, além de estimular o reconhecimento mútuo como pessoas de uma mesma comunidade – etapas fundamentais para os diálogos seguintes da agenda.
A oficina foi mediada pela consultora Juliana Pesqueira, comunicadora popular que atua com organizações sociais e direitos humanos desde 2016. Durante os dois dias de oficina, Juliana liderou a agenda que passou pela trajetória de reconhecimento de território, o que é comunicar, as formas de comunicar e a comunicação popular como ferramenta para luta e direitos.
“A comunicação popular é uma ferramenta estratégica de mobilização social que quando aliada à pauta indígena LGBTQIA+ proporciona esse processo de conhecer e se reconhecer, em um movimento para que o coletivo reconheça suas potências, e o protagonismo na luta por seus direitos, pautando a forma e como querem ser reconhecidos, pautando as lutas a partir das suas narrativas e realidades”, destaca Juliana.
Experiências
Essa foi a primeira vez que Israel Santos da Costa, de 15 anos, da etnia Sataré-Mawé, participou de uma oficina para população indígena. Ele contou que já está inserido no debate porque seu pai e sua mãe já participam do movimento indígena, mas que essa foi a primeira vez que ele participou sem a companhia dos pais. “Meus pais participam do movimento indigena e eu estou com eles desde pequeno. Eu sempre ouvia eles lutando pelo povo indígena e isso me cativou a ser como eles”, relata Israel. “Aprendi sobre respeito, educação e conheci a luta das pessoas LGBTQIA+ indígenas, que eu não conhecia”, completa.
Essa também foi a primeira vez que Charliny Maués, da etnia Kokama, participou de uma oficina para população indígena. Ela veio a convite da esposa, Fran Souza, da etnia Apurinã.
“Tudo foi um aprendizado para mim. Pude perceber que não estou só, que tenho mais gente levantando a bandeira LGBT comigo para lutar pelos nossos direitos”, conta ela.