A primeira Marcha das Mulheres Indígenas de Porto Alegre foi realizada na tarde de segunda-feira (23), na Praça Montevidéu, em frente à Prefeitura. Com a presença de indígenas Guaranis e Kaingang, representando nove aldeias, o evento contou com apresentações culturais, exposição de arte e artesanato, e um ato político – com falas e a leitura de uma carta que será enviada a todos os candidatos e candidatadas à prefeitura da Capital.
Com início em 2019, o movimento “Marcha das Mulheres Indígenas” se reúne anualmente em Brasília, levando à capital federal um lema e pautas diferentes a cada edição. Em Porto Alegre, a motivação para a manifestação foi a falta de visibilidade política que os indígenas recebem.
“O que nos motivou, principalmente, foi a invisibilidade e o descaso que percebemos em relação ao povo indígena por parte das autoridades políticas. Aqui, prefiro não citar nomes, mas quando olhamos os planos de governo e as propostas, quase nunca o indígena é mencionado”, afirma Juliana Dutra, uma das coordenadoras da Marcha. A manifestante também declarou o seu desejo de que o movimento se torne estadual e que, no futuro, a questão indígena possa ser debatida em relação à saúde, à educação e aos territórios.
Juliana ainda ressaltou a importância das terras indígenas para os povos originários. “Os territórios indígenas são mais do que um pedaço de terra. Eles são chamados de ‘corpo-território’ porque fazem parte da vida dos povos indígenas de maneira muito profunda. Isso nos motivou a valorizar a mulher indígena, o artesanato indígena, as pautas indígenas e a contribuição que os povos indígenas têm a oferecer, especialmente no contexto da crise climática que o mundo, e o Brasil em especial, enfrentam agora”, disse.
O ambientalista, filósofo e líder indígena Ailton Krenak vem há tempos denunciando a nossa destruição. Em seus livros, como “Ideias pra adiar o fim do mundo” e “O amanhã não está à venda”, fala sobre o desrespeito ao meio ambiente e as possíveis consequências desse feito contínuo. “Vai chegar uma hora que a terra não vai responder mais. Vai ser uma terra morta”, afirma.
Em complemento, Juliana pontua que, neste cenário, a cultura indígena pode ser a única saída. “Li algo essa semana que achei muito interessante, dizendo que, para a emergência climática, ‘nós, indígenas, somos a resposta’, por causa da relação de respeito que temos com o meio ambiente, o considerando como parente, como alguém próximo da sua família”.
Enquanto isso, a Marcha das Mulheres Indígenas continua se espalhando, a exemplo de Brasília, onde se reúnem mais de 200 etnias do Brasil todo. Pedindo por respeito, oportunidades, visibilidade e justiça, os indígenas seguem a reivindicar seus direitos, mesmo no Rio Grande do Sul. “Muitas pessoas acham que só há indígenas no Amazonas. Tem pessoas que moram em Porto Alegre e não sabem que temos onze aldeias indígenas aqui. Precisamos nos manifestar”, afirma Juliana.
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