Até o dia 10 de março, estão abertas as inscrições do Edital de Apoio a Pesquisadores Indígenas, que oferece recursos financeiros para a realização de projetos de ensino, pesquisa e extensão universitária desenvolvidos por docentes e estudantes de graduação e de pós-graduação da USP qualificados como pessoa indígena.
Serão financiados valores de até R$ 15 mil por projeto, que poderão ser utilizados, por exemplo, em passagens e diárias, serviços de terceiros e aquisição de equipamentos. O valor total de recursos disponibilizados pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) para o edital é de R$ 150 mil. “Essa segunda edição do edital para pesquisadores indígenas consolida a política da PRIP de articular a diversidade na Universidade como parte integrante e inovadora da excelência acadêmica da USP”, explica a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lanna.
Os projetos podem ser propostos em todas as áreas de conhecimento e não precisam ter realidades indígenas como objeto.
Podem ser submetidos tanto projetos de pesquisa, ensino e extensão quanto projetos de incidência na sociedade, como capacitação de comunidades indígenas, articulação em rede, realização de oficinas, encontros, congressos e seminários, desenvolvimento de conteúdo e práticas didáticas.
O edital completo, com cronograma e as orientações, está disponível no site da PRIP. Para mais informações, entre em contato pelo e-mail [email protected].
Ampliando perspectivas
Em sua segunda edição, o edital tem como objetivo potencializar, dar visibilidade e criar boas condições de produção científica para docentes e estudantes de graduação e pós-graduação indígenas, em todas as áreas de estudo, ampliando a participação desses pesquisadores na Universidade e diversificando as matrizes científicas e epistemológicas das pesquisas.
“O lançamento de um segundo edital indica que evoluímos de uma proposta eventual para uma política na USP, um conjunto de ações que aprofunda tanto a agenda indígena na Universidade quanto a agenda de pesquisa, em qualquer que seja o tema. O olhar dos pesquisadores indígenas é um olhar que nos enriquece”, explica o diretor da Coordenadoria de Direitos Humanos e Políticas de Reparação, Memória e Justiça da PRIP, Renato Cymbalista.
Contemplada na primeira edição do edital, a aluna de graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU), Fernanda Pereira Theodoro, reforça a importância da iniciativa: “Editais como esse desempenham um papel essencial na inclusão dos povos indígenas na Universidade ao incentivar pesquisas que dialogam com seus saberes e demandas.”
“Além disso, viabilizam projetos que integram o conhecimento tradicional indígena com a pesquisa acadêmica, valorizando e legitimando essas práticas dentro da USP, e proporcionam oportunidades para que estudantes indígenas possam desenvolver pesquisas voltadas às realidades e desafios dessas populações, criando um ambiente mais diverso e representativo. Iniciativas como essa fortalecem a visibilidade das questões indígenas na academia, estimulando políticas de inclusão e ampliando o interesse de novos pesquisadores nesse campo”, defende a estudante.
Fernanda estuda o desenvolvimento sustentável na construção de habitações indígenas e utilizou parte dos recursos na aquisição de materiais para testes estruturais e desenvolvimento de elevação hidráulica. O apoio financeiro também ajudou a custear um intercâmbio na cidade de Veneza (Itália), onde a pesquisadora pôde observar soluções sustentáveis e adaptáveis a diferentes contextos de alagamento e analisar comparativamente as diferentes estratégias de construção resiliente.
Emerson Souza, guarani e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), reforça que “esses editais são resultado de um importante movimento impulsionado pelas lutas dos movimentos indígenas na USP. Eles trazem a perspectiva indígena e seus olhares frente a novos modos de construir conhecimento. Entretanto, a reparação histórica necessita de outras ações da USP voltadas para a presença indígena em seu ambiente, na graduação e na pós-graduação. Neste sentido, o edital nos proporcionou refletir e discutir como podemos avançar nesta presença”.
Souza também foi contemplado na primeira edição do edital e, com os recursos recebidos, realizou debates sobre a presença indígena nas universidades, com a participação de palestrantes indígenas de diversas regiões do Brasil, que trouxeram relatos importantes para se pensar em questões como um vestibular específico para indígenas de todo o País.