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Conheça a história das mulheres indígenas xetás do Paraná: ‘nossa briga é pra mostrar que não estamos extintas’

Mulheres xetás vivem na aldeia Kakané Porã, no bairro Campo de Santana, em Curitiba (PR) - Pedro Carrano

Há bem pouco tempo, as mulheres xetás, que vivem na aldeia Kakané Porã, no bairro Campo de Santana, em Curitiba (PR), reativaram a associação de mulheres, para acessar projetos e organizar melhor a produção de seus materiais.

A Associação de Mulheres Indígenas Xetás (AMIX) tem sabor de novidade, embora seja a continuação da caminhada da liderança Belarmina Paraná, mãe de Indiamara e Indioara Paraná, que agora mantêm a herança de organização e resistência de uma etnia que, no final dos anos 90, contabilizava somente cerca de dez remanescentes.

Hoje, as xetás são uma das três etnias realocadas na Kakané Porã, ao lado de Guaranis e Kaingang. Fazem parte da coordenação local e buscaram, com o tempo, colocar a importância da sua identidade.

Um parênteses

Aqui, abre-se um parênteses: a qualidade do loteamento e das casas construídas na Kakané Porã revela os benefícios irrecusáveis da regularização fundiária.

Embora, no formato de comodato entre Prefeitura de Curitiba e Funai, lideranças afirmem que ainda existem pendências, é evidente que essa configuração deveria ser a mesma para cada área de ocupação de Curitiba. É questão de investimento e vontade política.

Fechando o parênteses, voltamos à frente da casa de Indioara, onde um café é oferecido em meio a uma roda de conversa para espantar o frio.

As irmãs exibem artesanatos que revelam a síntese de aprendizados com outros agrupamentos. Os xetás têm a cultura do uso da folha de bananeira e dos objetos feitos com cera de abelha, porém a ausência de matérias-primas trouxe a adaptação para o uso da madeira. Usam também o tembetá (furo no lábio), prática comum entre os guarani.

O trabalho de regularização da entidade foi responsabilidade de Gilnei Machado, assessor do Centro Urbano Rural Irmã Araújo, o Cefuria, que tem fortalecido legalmente associações de moradores, caso da União de Moradores e Trabalhadores (UMT), Associação de Haitianos, entre outras.

Hoje, as xetás são uma das três etnias realocadas na Kakané Porã, ao lado de guaranis e kaingang / Pedro Carrano

Retomada

O verdadeiro sonho, porém, é o de regresso à terra de onde seu povo foi expulso, violentado e massacrado nos anos 50, terras sobre as quais ainda paira o desejo de haver uma retomada indígena na cidade de Umuarama, região noroeste do Paraná. “É o sonho de nossos pais e nossos tios”, afirma Indiamara.

Desde a expulsão naquela época, as famílias perambularam e viveram em diferentes locais, comunidades indígenas caso de Rio das Cobras (região centro), Marrecas, perto de Guarapuava. O nascimento de Belarmina Paraná, no entanto, foi na Reserva Indígena de Mangueirinha, onde aprendeu as raízes da resistência, ao lado também dos kaingang.

Por ora, os habitantes da Kakané Porã seguem em local digno, resultado de lutas e migrações, porém ressentem que houvesse maior divulgação por parte da prefeitura de uma comunidade que poderia atrair visitantes e interesse turístico. Protestam também contra o fato do recente Parque do Pinhal, na frente a comunidade, não oferecer sequer espaço para os povos indígenas. “Nós não podemos expor artesanatos ali, o salão está vazio, ou mesmo fazer apresentação de nossas danças”, critica Indiamara. E acrescenta: “Nem convidadas fomos. Somos procuradas apenas no dia 19 de abril (Dia dos Povos Indígenas).

A partir da escolinha local, que hoje abrange o ensino das línguas guarani e kaingang, um dos desejos da associação de mulheres é resgatar a prática do idioma xetá, perdido com a violência colonialista. “Meu pai conversava com ele mesmo no espelho para não esquecer a língua xetá”, aponta Indiomara. Quem ainda diz: “Nossa briga é pra mostrarmos que não estamos extintas”.

Belarmina Paraná

O Boletim número 151, edição especial da Casa Romário Martins, contra a trajetória de uma liderança indígena em Curitiba, uma lutadora inspiradora, cuja memória fortalece suas filhas para seguirem preservando a cultura Xetá. O texto foi organizado por Lilliany Rodrigues Barreto dos Passos e Tatiana Takatuzi.

A Associação de Mulheres Indígenas Xetas (AMIX) continua a caminhada da liderança Belarmina Paraná / Pedro Carrano

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