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Como a primeira mulher cacique do Brasil ajudou a criar escola referência no Ceará

Cacique Pequena (que está com o cocar branco e segura o microfone) dá boas vindas para as autoridades brasileiras e internacionais na Escola Jenipapo Kanindé - (crédito: Letícia Lima/MEC)

Aquiraz (CE) — Entre dunas, pés de manga e cajueiros, a Escola Indígena Jenipapo-Kanindé atende 101 estudantes do fundamental 1 e 2, nos períodos de manhã e tarde. Fundada em 2009, a unidade escolar está localizada no município de Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza.

A escola indígena existe graças a luta de longos anos de indígenas de Aquiraz, principalmente a líder Maria de Lourdes da Conceição Alves, mais conhecida como Cacique Pequena. Aos 80 anos, Pequena é considerada a primeira mulher cacique do Brasil. Ela lutou pela demarcação do território de seu povo, e também por educação e saúde.

“Lutei para ver esse povo alfabetizado. Graças a Deus, a luta serviu. Temos hoje só não o doutorado, mas já temos pessoas com mestrado. Todos aqui da escola são indígenas, da cozinheira até a diretora”, disse a cacique ao Correio. Ela foi escolhida como líder do povo Jenipapo-Kanindé em 1995, após a morte do cacique Odorico.

Agricultora, artesã e compositora, Pequena idealizou e fundou a Associação das Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé.

O Correio visitou a Escola Indígena Jenipapo Kanindé como parte das atividades da 2ª Cúpula Global da Coalizão para a Alimentação Escolar
(foto: Letícia Lima/MEC)

“Em 1995, fui à Brasília e tive a oportunidade de conversar com o presidente da Funai. Pedi que mandasse o povo dele na aldeia para fazer o estudo da nossa mãe-terra e de nós”, lembra Pequena. Nesses 30 anos como cacique, ela comemora a demarcação do território, e também a presença da escola, posto de saúde e Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) na aldeia.

Como é a escola?

A escola é referência na educação escolar indígena no estado e desenvolve uma série de projetos: Aluno Leitor, Hora do Conto, Olimpíadas de Matemática, Projeto Meio Ambiente, Feira Cultural, Rádio Escolar, Jogos Escolares, Programa Saúde na Escola. A unidade também conta com aulas de música e canto, e ações com plantas medicinais.

Os estudantes aprendem em português e tupi nheengatu. Para auxiliar no aprendizado, as crianças recebem merenda diversificada. O cardápio conta com alimentos produzidos pelo próprio povo indígena, como batata doce, abóbora, melancia, banana, e melão.

Carline Alves, diretora da escola, disse ao Correio que as crianças contam com acompanhamento nutricional. “A nossa escola é referência pela questão do nosso trabalho, do envolvimento dentro da nossa cultura. E trabalhamos dentro da escola como se estivéssemos cuidando da nossa casa”, afirmou Carline.

Alunos recebem visita das delegações da Cúpula Global da Coalizão pela Alimentação Escolar
(foto: Letícia Lima/MEC)

Danilza Soares, profesora da educação infantil, cita que para muitos alunos a primeira refeição é feita na escola. “Eles esperam muito pelo horário da merenda”, conta. Luíz Paulo, também professor da educação infantil, acrescenta que a alimentação da escola é diversificada. “Tem verduras, tem frutas aqui na nossa região. E eles adoram”.

A secretária dos Povos Indígena do Ceará, Juliana Alves, falou sobre a relação entre alimentação e aprendizado. “A partir do momento que a gente dá uma alimentação adequada para os nossos alunos, eles vão conseguir aprimorar mais o conhecimento”, cita.

Ainda segundo Juliana, o Ceará tem um olhar voltado para a merenda escolar, desde a rede municipal até a estadual. “O estado trabalha para erradicar a pobreza e a fome. As nossas crianças são alimentadas na escola, mas também têm a segurança de quando chegar em casa, por meio do programa Ceará Sem Fome, possam ser contemplados com a alimentação”, destacou.

Escola Indígena Jenipapo Kanindé. Foto: Aline Gouveia/CB/D.A Press

Os cardápios são elaborados com base nos princípios da alimentação saudável, incluindo produtos vindos da agricultura familiar, entre eles o peixe, respeitando o percentual mínimo de 30% estabelecido pela legislação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Cardápio da Escola Indígena Jenipapo Kanindé
(foto: Aline Gouveia/CB/D.A Press)

2ª Cúpula Global da Coalizão para a Alimentação Escolar

O Correio visitou a Escola Indígena Jenipapo-Kanindé no sábado (20/9), como parte das atividades da 2ª Cúpula Global da Coalizão para a Alimentação Escolar, que aconteceu em Fortaleza. O evento reuniu ministros, autoridades governamentais e parceiros de mais de 80 países para debater avanços, trocar experiências e firmar compromissos em torno da oferta de refeições saudáveis e nutritivas para estudantes em todo o mundo.

O Brasil é referência mundial com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Essa política garante refeições diárias a quase 40 milhões de estudantes em 150 mil escolas, somando 50 milhões de refeições por dia, um investimento anual de R$ 5,5 bilhões.

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