Na terra indígena Tenondé Porã, o barulho dos passarinhos e o cheiro de mato contrastam com o imaginário que muitas pessoas têm quando pensam na maior metrópole da América Latina. Localizada em Parelheiros, no extremo Sul da capital, a TI abriga atualmente 14 aldeias, onde vivem cerca de 2 mil indígenas. Com uma área total de 16 mil hectares, nem todas as aldeias já estão com o processo de demarcação oficializado. As duas primeiras, Tenondé Porã e Krukutu, o fizeram ainda em 1987. Além de manterem vivas as tradições e costumes da etnia guarani, seus moradores trabalham na proteção e recuperação do território.
A mudança começa na estrutura das lideranças: não há cacique nem um único chefe. As decisões são tomadas por grupos formados por mulheres e homens. “As mulheres não tinham voz quando tinha o cacique”, explica Kerexu Honório, uma das lideranças. “Mas agora a gente consegue conversar e dialogar.”
Na Kalipety, não há esgoto encanado. Para driblar essa questão, os indígenas construíram sistemas sustentáveis, como biodigestores, e também um sistema de captação de água que aproveita as nascentes e os afluentes da região.
Os indígenas também trabalham na recuperação do solo. A floresta nativa de Mata Atlântica que antes existia ali foi devastada e tomada por muitos eucaliptos. Tiago Santos Karai é uma das lideranças e explica que o processo de reflorestamento já dura dois anos. Os indígenas implementaram o sistema de agrofloresta, que permite o plantio e promove a preservação da fauna ao mesmo tempo.
“É um processo que chega mais próximo da evolução da própria natureza”, conta Tiago. “O objetivo maior é que daqui a 10 ou 15 anos se torne uma floresta mesmo.”
São os próprios indígenas que trabalham na plantação. Dentre eles, muitos jovens que, por vezes, entoam cantigas guarani durante o trabalho. Um dos alimentos plantados é o milho, que é considerado sagrado.
“Temos uma relação muito respeitosa com o milho. Ele é a nossa base alimentar, mas vai muito mais além”, explica Tiago. “Tem uma ligação espiritual porque, através da cerimônia do milho, que é o nosso batismo, a gente recebe os nossos nomes espirituais, nossos nomes sagrados.”
Além disso, as aldeias vêm se tornando bancos de sementes, trocando umas com as outras sempre que necessário. “Cada aldeia vai ter a sua semente para replantar. A gente vai trocando porque às vezes a gente não tem uma semente, mas o outro tem. Aí vamos fazendo a troca”, diz Kerexu.
Tiago explica que, no futuro, eles querem conseguir viver de forma independente, apenas com o que produzirem nas aldeias. “A gente vem fazendo várias reflexões e estudos com nossos parentes para a gente repensar. Às vezes desapegando do arroz e do feijão que vem da cidade. Tentar conseguir chegar nesse objetivo de um dia comer só alimento do território.”
Por dentro dos ODS
Para as celebrações dos 470 anos da capital paulista, o Bom dia São Paulo, o SP1, SP2 e o g1 exibem nesta semana uma série de reportagens sobre paulistanos que estão fazendo a diferença em cada uma das áreas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ajudando a tornar a cidade um lugar melhor e mais justo para todos.
Nesta reportagem, tratamos do ODS 15: vida terrestre. Esse objetivo fala sobre “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade”.
Confira em detalhes o que ele estabelece:
15.1 Até 2020, assegurar a conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas terrestres e de água doce interiores e seus serviços, em especial florestas, zonas úmidas, montanhas e terras áridas, em conformidade com as obrigações decorrentes dos acordos internacionais.
15.2 Até 2020, promover a implementação da gestão sustentável de todos os tipos de florestas, deter o desmatamento, restaurar florestas degradadas e aumentar substancialmente o florestamento e o reflorestamento globalmente.
15.3 Até 2030, combater a desertificação, restaurar a terra e o solo degradado, incluindo terrenos afetados pela desertificação, secas e inundações, e lutar para alcançar um mundo neutro em termos de degradação do solo.
15.4 Até 2030, assegurar a conservação dos ecossistemas de montanha, incluindo a sua biodiversidade, para melhorar a sua capacidade de proporcionar benefícios que são essenciais para o desenvolvimento sustentável.
15.5 Tomar medidas urgentes e significativas para reduzir a degradação de habitat naturais, deter a perda de biodiversidade e, até 2020, proteger e evitar a extinção de espécies ameaçadas.
15.6 Garantir uma repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos e promover o acesso adequado aos recursos genéticos.
15.7 Tomar medidas urgentes para acabar com a caça ilegal e o tráfico de espécies da flora e fauna protegidas e abordar tanto a demanda quanto a oferta de produtos ilegais da vida selvagem.
15.8 Até 2020, implementar medidas para evitar a introdução e reduzir significativamente o impacto de espécies exóticas invasoras em ecossistemas terrestres e aquáticos, e controlar ou erradicar as espécies prioritárias.
15.9 Até 2020, integrar os valores dos ecossistemas e da biodiversidade ao planejamento nacional e local, nos processos de desenvolvimento, nas estratégias de redução da pobreza e nos sistemas de contas.
15.a Mobilizar e aumentar significativamente, a partir de todas as fontes, os recursos financeiros para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas.
15.b Mobilizar recursos significativos de todas as fontes e em todos os níveis para financiar o manejo florestal sustentável e proporcionar incentivos adequados aos países em desenvolvimento para promover o manejo florestal sustentável, inclusive para a conservação e o reflorestamento.
15.c Reforçar o apoio global para os esforços de combate à caça ilegal e ao tráfico de espécies protegidas, inclusive por meio do aumento da capacidade das comunidades locais para buscar oportunidades de subsistência sustentável.