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Juventudes indígenas do Rio Negro lançam Carta de Direitos Climáticos durante a COP30

Entrega simbólica da carta à Ministra Sônia Guajajara durante a Pré-Cop Parente em São Gabriel da Cachoeira 📷 José Paulo/Rede Wayuri

No próximo dia 14 de novembro, às 17h, na Aldeia COP, em Belém (PA), jovens indígenas do Rio Negro lançarão oficialmente a Carta de Direitos Climáticos das Juventudes Indígenas do Rio Negro, um documento histórico que nasce da mobilização de adolescentes e jovens que vivem entre as comunidades e as cidades da região, em defesa do futuro dos seus territórios, modos de vida e da própria Amazônia.

A cerimônia contará com a presença de jovens e representantes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas e parceiros.

A Carta é resultado de um processo iniciado em 2023, em meio à maior seca já registrada na história da Bacia Amazônica, quando os jovens indígenas da região – que inclui os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira – começaram a refletir de forma mais intensa sobre os impactos das mudanças climáticas em seus territórios.

Leia o documento completo aqui

Registro da primeira oficina sobre justiça climática e racismo ambiental, em 2023, que deu início soa estudos sobre Cartas de Direitos Climáticos 📷 Yasmim Baré/Acervo pessoal

As discussões começaram com oficinas sobre Justiça Climática e Racismo Ambiental, realizadas pelo Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (Dajirn) e pelo Instituto Socioambiental (ISA), em parceria com a Rede Wayuri, a Funai e a Secretaria Municipal de Juventude de São Gabriel da Cachoeira.

“A partir destas oficinas, iniciamos os estudos sobre Cartas de Direitos Climáticos, como a que foi desenvolvida na Maré, no Rio de Janeiro, e na Ilha de Caratateua, no Pará. Isso inspirou a juventude indígena rionegrina a pensar e refletir sobre seu território dentro deste contexto da emergência climática, trazendo um olhar, por exemplo, dos seus próprios processos de gestão e documentos importantes, como o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) sob a luz da justiça climática”, enfatiza Juliana Radler, analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro, que conduziu as oficinas em 2023.

Jovens no encontro para elaboração da carta em São Gabriel da Cachoeira 📷 Rede Wayuri

O movimento seguiu com encontros periódicos online de estudos e debates e em outubro de 2024, durante a V Assembleia Geral Eletiva do Dajirn – que teve como tema “Desafios para o bem viver dos adolescentes e jovens indígenas do Rio Negro” – os jovens representantes das cinco regiões da Foirn definiram os eixos prioritários e aprovaram a proposta de elaboração da Carta de Direitos Climáticos das Juventudes Indígenas do Rio Negro, preparada para ser lançada durante a COP30.

Antes de chegar a Belém, o documento teve um momento simbólico de entrega à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, durante a Pré-COP Parente, realizada em São Gabriel da Cachoeira (AM), em setembro deste ano. O gesto marcou o reconhecimento da Carta como uma contribuição concreta da juventude indígena do Rio Negro ao debate climático global.

Dez propostas para garantir o futuro dos territórios

A Carta de Direitos Climáticos apresenta dez propostas concretas e possíveis de implementação, que dialogam com a realidade local e apontam caminhos para a justiça climática na Amazônia:

Financiamento climático: destinar recursos para os Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) nos territórios indígenas.

Educação intercultural: criação do Instituto de Conhecimentos Indígenas e Pesquisas do Rio Negro (Icipirn).

Saúde indígena: construção de um hospital intercultural modelo em São Gabriel da Cachoeira.

Gestão de resíduos sólidos: implantação de aterros sanitários e coleta adequada de lixo e eletrônicos.

Saneamento básico: universalização dos serviços de água e esgoto nos três municípios do Rio Negro.

Patrimônio cultural e memória: criação do Museu da Memória Indígena no Noroeste Amazônico até 2030.

Direitos da Natureza: reconhecimento jurídico do Rio Negro como uma entidade viva.

Mobilidade amazônica fluvial: plano de transporte público que conecte comunidades e cidades.

Governança ambiental indígena: reconhecimento e fortalecimento dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs).

Mitigação e adaptação climática: substituição dos motores a diesel por energia solar nas comunidades.

Jucimeiry Garcia, coordenadora do Dajirn, fez entrega simbólica da Carta de Direitos Climáticos das Juventudes do Rio Negro à ministra Sonia Guajajara 📷 Vanessa Fernandes/ISA

Com a Carta de Direitos Climáticos, as juventudes indígenas do Rio Negro querem ser ouvidas como protagonistas da luta por justiça climática. Elas defendem o direito de existir em seus territórios, de preservar seus modos de vida e de construir, desde agora, o amanhã que desejam para suas comunidades e para o planeta.

“Seguimos firmes no compromisso de defesa da nossa cultura e nossos territórios. Nossa floresta é mais do que um depósito de carbono. Nossa floresta é nossa casa, onde moramos, trabalhamos e morremos. Nossos ancestrais estão aqui. Nossa origem, nossas histórias e nossas línguas pertencem à Amazônia” – diz trecho do documento.

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